Não sou um especialista em relacionamentos. Muito pelo contrário, eu diria que sou um completo desastre. Minhas experiências são traumáticas e aprendo muito assistindo de fora, os dos outros. E um dos pontos que sempre me chama a atenção é a intensidade de alguns desses relacionamentos. A forma como se desenvolvem e como caminham. Mais cadenciados ou mais tensos, mais decididos. E tal intensidade pode ser um risco dentro de uma relação.
Outro fator determinante é o equilíbrio. Gosto de uma frase de um amigo meu, que diz: “amor é doação, não se pode amar sem se doar pro outro”. Equilibrar as coisas, saber o que o outro quer e poder retribuir da mesma forma, com carinho, com atenção, com afeto.
Certamente vão me chamar de louco após este preâmbulo para dizer que Bruno Guimarães no Athletico é a síntese de um relacionamento firme, forte e enraizado. Num Furacão intenso, chega com tranquilidade, cadencia e transforma o jogo. Se doa para a equipe, em seus percalços, e faz com que tudo pareça mais tranquilo.
Bruno é o que chamamos hoje de todocampista, que está presente nas duas fases do jogo. Com uma leitura apurada do que acontece em campo, participa do momento defensivo, ocupando espaço, desarmando e interceptando, e também da fase ofensiva, gerando jogo, abrindo espaço e pisando na área.
É nossaaaaaa obrigado por tudo meu Deus!!!! 21 anos me sinto realizado por tudo. Pode comemorar que é nossaaaaa 🙏🏽🌪🌪🌪🌪 pic.twitter.com/JRCszrIoG1
— Bruno Guimarães (@brunoog97) September 19, 2019
Se até 2014 (ou um pouco mais, na ressaca do 7–1) a crítica era de uma falta de pensadores de jogo, meio-campistas cerebrais que pudessem ditar o ritmo da partida, inspirados por Xavi e Iniesta, o Brasil tem uma geração soberba de jogadores com essas características: Arthur Melo, Matheus Henrique, Douglas Luiz, Lucas Paquetá e Bruno Guimarães, todos com idade olímpica e que podem fazer essa função no meio de campo.
Além dessa onipresença em campo, os todocampistas brasileiros tem uma característica muito interessante: o passe em profundidade. Dar a bola no ponto futuro para a chegada de quem está fazendo a ultrapassagem, abrindo espaço e quebrando as linhas.
Dos citados, Bruno é o que mais gosta de ter a bola sob seu controle, mas sem egoísmo. Sabe que ter a posse de bola é importante para se vencer um jogo, mas é imprescindível saber o que fazer quando não se tem ela. Guimarães dita o ritmo e dá as cartas da partida. Sendo assim, ele é um jogador que todo o treinador gostaria de ter em seu time. Aos 21 anos, está afirmado entre os ótimos jogadores do país e como uma das grande promessas não só da posição.
O título coroa a temporada brilhante do camisa 39. Fez isso durante a Copa do Brasil e faz ao longe de toda a temporada. Não se surpreenda se Tite o convocar para a Seleção: é a peça que falta na engrenagem canarinho.